15 de jan. de 2013

Anotações sobre fotografia.

Quando temos medo, atiramos. Mas quando ficamos nostálgicos, tiramos fotos.
A época atual é de nostalgia, e os fotógrafos fomentam, ativamente, a nostalgia.
Tirar uma foto é participar da mortalidade, da vulnerabilidade e da mutabilidade de outra pessoa (ou coisa). Justamente por cortar uma fatia desse momento e congelá-la, toda foto testemunha a dissolução implacável do tempo.
Uma foto é tanto uma pseudopresença quanto uma prova de ausência.
"Uma foto é um segredo sobre um segredo", observou Arbus. "Quanto mais se diz, menos você sabe".
Uma sociedade se torna "moderna" quando uma de suas atividades principais consiste em produzir e consumir imagens, quando imagens que têm poderes excepcionais para determinar nossas necessidades em relação à realidade e são, elas mesmas, cobiçados substitutos da experiência em primeira mão se tornam indispensáveis para a saúde da economia, para a estabilidade do corpo social e para a busca da felicidade privada.
... uma foto nunca é menos do que o registro de uma emanação (ondas de luz refletidas pelos objetos) - um vestígio material de seu tema, de um modo que nenhuma pintura pode ser.
Não se pode possuir a realidade, mas pode-se possuir imagens (e ser possuído por elas).
Possuir o mundo na forma de imagens é, precisamente, reexperimentar a irrealidade e o caráter distante do real.





Fragmentos retirados do livro "Sobre fotografia", de Susan Sontag.

3 de jan. de 2013