27 de out. de 2011

Mais Clarice.





"A verdade é sempre um contato interior e inexplicável.
A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior, e não há uma palavra que a signifique"

18 de out. de 2011

Clarice.

"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. [...] Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. [...] Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter. [...] Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei , perdi toda a vivacidade e todo o interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim que fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões – cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. [...] Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa me disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinqüenta anos. [...] o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que quase se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite mais a você do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver."



Trechos de carta enviada por Clarice Lispector para sua irmã Tania, em 1947.

3 de out. de 2011

Sobre os dias que não tem gosto de nada.


Me angustia estar angustiada. Ciclo infinito para o lado de dentro, que é maior, que é imenso.
Daquelas coisas que só as melodias da Cat Power podem tentar representar.
Às vezes fico surpresa de como um oceano de diferença pode conter coincidências.

Outras vezes penso que nada mais me surpreende.
Sinto medo da apatia.