9 de dez. de 2008

flores mortas




Ela ia andando pela rua, parou no bar pra esquecer o calor que esquecia a dor. "Tu ficarias muito brava se eu te desse um beijo?" .... "Que?", meio distraída, só ouviu um resmungo. Ele repetiu a pergunta, agora com mais força: "Tu ficarias muito brava se eu te desse um beijo?".
"Sim, muito." Ela pensava no calor e no tango que lhe tocava os ouvidos, dançando seus cabelos devagar. "Mas, por que?", ela ouviu outro resmungo, demorou um pouco pra entender a pergunta. "Porque tu não é de verdade." Daí se arrependeu, um segundo depois, por ter respondido. Pensou que de verdade não era nada, de verdade ela não tinha nada, até o tango era mentira. Todos aqueles passos de charme e sedução, aquele ritmo que leva sem querer, tudo de mentira. "Ah, mas eu posso fazer virar tudo verdade", ele cochicou, já um pouco bêbado. Pensou também que de mentira era essa vida, essas palavras e o que mais via, era tudo mentira. Mentira também essa batida e esse violino e esses barulhinhos, o cabelo ia esvoaçando, o teclado enlouquecendo, a verdade era dita por quem? Verdade é o que a gente pensa, cada segundo, cada nuvem, todos os dias. E de tanta mentira, não se sabe onde foram parar.

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